O Movimento dos Trabalhadores Sem Terra representa uma trincheira importante na luta em defesa da reforma agrária; o movimento sindical em defesa da valorização dos trabalhadores e trabalhadoras, bem como da geração de emprego e renda para brasileiros e brasileiras que estão à margem do processo produtivo; o movimento estudantil na luta em defesa da educação pública, gratuita e de qualidade; os partidos de esquerda são também extremamente importantes para organizar militantes, formular táticas e estratégias, combater o neoliberalismo e defender as bandeiras dos movimentos sociais nos governos e parlamentos; por fim, diversos movimentos, organizações, partidos e militantes estão engajados em alguma luta extremamente importante para combater as desigualdades sociais e aprofundar a democracia brasileira.
Como obter um saldo político capaz de inserir o Brasil e quem sabe a América Latina em um outro patamar/modelo de desenvolvimento social e econômico? Em tempos de crise do neoliberalismo, como formular uma alternativa possível de se concretizar na democracia e para a democracia? A fragmentação das esquerdas interessa a quem? Como formular uma alternativa capaz de unificar as esquerdas sem que se produza uma síntese dialética de suas formulações?
Os questionamentos/provocações acima destacados introduzem uma constatação: a minha geração nasce, cresce e já começa a se reproduzir num período de intensa fragmentação das esquerdas. O MST não unifica todos aqueles que lutam por terra, a CUT não unifica os trabalhadores, a UNE não unifica os estudantes e o PT não unifica os partidos de esquerda nem mesmo quando o adversário é de extrema-direita. A minha geração também nasce, cresce e já começa a se reproduzir com uma cultura um tanto quanto improdutiva de procurar culpados, não alternativas. Como fiel integrante da minha geração, questiono: a culpa é do MST, da CUT, da UNE e do PT? Creio que não... Aliás, não creio, tenho convicção. Já no que diz respeito às alternativas, também estou convicto de que passa pelo MST, pela CUT, pela UNE, pelo PT e por diversos outros movimentos, organizações, partidos e militantes de esquerda. Passa pela capacidade de se produzir unidade na diversidade, síntese da pluralidade, luta constante no campo e na cidade.
Diversas manifestações populares estão acontecendo em diversos lugares do mundo e muitas vezes sequer são convocadas por partidos ou movimentos clássicos da esquerda. Algumas características estão presentes em algumas das manifesfações e devem servir de base para nossa autocrítica. O que permitiu a unidade entre militantes de diversas correntes durante a ocupação da Câmara Municipal do Natal? O que permite a unidade durante a ocupação da Liberty Plaza, no movimento denominado “Occupy Wall Street”? Ouso responder sinteticamente: democracia interna. Somente movimentos, organizações e partidos que exercitam ou minimamente tentam exercitar a democracia interna são capazes de produzir unidade na diversidade, síntese da pluralidade e luta constante no campo e na cidade. Quando não, tornam-se vanguardas ditas revolucionárias tentando inculcar suas ideologias e anunciando a salvação. Tornam-se quase religiões, na maioria das vezes monoteístas.
Como concluir um texto provocador de reflexões, escrito por quem reconhece as contradições de seu partido e o caráter social-democrata dos governos Lula e Dilma? Prefiro não concluir. Trata-se de um processo e, como tal, não se propõe a produzir conclusões. Dia 15 de outubro estaremos novamente juntos, no mutirão do Centro de Formação do MST (Ceará-Mirim/RN): partidos, movimentos e militantes de esquerda. Até breve!
Bruno Costa